Quem é “geração mi mi mi”, os Líderes ou os Liderados?

Eu saí de casa em 1980, com dezesseis anos, para ingressar na faculdade, e ainda me lembro de meu pai dizendo que nossa geração era complicada. Na universidade, ouvi diversas vezes, de professores, que nossa geração era preguiçosa e irresponsável. Ok, a gente realmente chegava atrasado e trocava algumas aulas por animadas partidas de truco…

Mas, hoje, tendo atingido uma idade em que se é possível olhar para o passado e para o presente, percebo que os choques de gerações sempre ocorreram. De maneira geral, a geração que está consolidada reluta um pouco para passar o bastão à geração que está chegando e a que está chegando, critica a anterior, comparando realizações com sonhos…

Nos dias atuais, é muito comum se ouvir pessoas mais maduras chamando a geração atual de “mi-mi-mi”. Parece que o termo é uma extensão daquele que muitos pais utilizam quando querem reclamar de seus filhos, na etapa da adolescência, carimbando-os como “aborrecentes”…

E você, já se viu utilizando frases como essas?

Há alguns meses, eu estava palestrando para vinte e três empresários, cada um conduzindo dezenas de franquias de varejo, quando, em algum momento, uma empresária desabafou:

– Puxa, essa geração “mi-mi-mi” é complicada. São imaturos, imediatistas, volúveis…

Ato contínuo, diversos outros empresários apoiaram a fala. Como eterno provocador que sou, permiti, inicialmente, que a polêmica se instalasse, e, depois de perceber a diminuição do frisson, iniciei:

– Poxa, parece que vocês estão, realmente, preocupados com esse tema. Então, vamos desviar um pouco nossa programação e discuti-lo. Dada a situação, qual é, na opinião de vocês, a melhor alternativa para a solução?

Pairou um silêncio incômodo. Resolvi, então, ajudar:

– Já que ninguém deu sugestão, vou dar uma: que tal contratarmos empregados com mais de sessenta anos, que estão, aos montes, procurando empregos, e fazem parte de uma geração muito mais disciplinada?

Depois de um rápido silêncio, a empresária que havia iniciado a polêmica interveio:

– Não, isso não dá. Nossa marca é jovem, e precisa de jovens para representa-la…

Como eles ainda não pareciam perceber a travessura que eu estava fazendo, continuei, mas forçando a barra:

– OK, então eu vou dar outra sugestão: jovens finlandeses. Estivemos por lá, e eles são muito mais disciplinados, responsáveis e qualificados que os nossos…

Nesse momento, claro, eles perceberam a sacanagem…

Daí em diante, conversamos seriamente, e é essa conversa que quero estender a você: para um Líder protagonista, não se trata de reclamar dos recursos de que dispõe. Trata-se de se fazer o melhor uso deles, para se chegar aos resultados desejados, e transformar aquilo que for necessário, para fazer acontecer. A isso, denominamos PROTAGONISMO.

É incrível como ainda encontro, pelos corredores das empresas, Líderes que destinam boa parte de suas conversas para reclamar da crise, da cultura da empresa, da qualidade de seus liderados, da postura de outras áreas, etc. É como se esperassem que o mundo fosse exatamente como eles gostariam… Falam como se fossem expectadores de um filme, e não seu principal protagonista… Mas, onde estaria o valor da Liderança, se tudo estivesse exatamente no seu devido lugar e se não houvesse desafios a se vencer?

Reflita um pouco: você costuma se vitimizar com muita frequência?

O PROTAGONISMO é uma competência muito desejada pelas organizações. Líderes protagonistas não se limitam pelas adversidades. Ao contrário, se estimulam a ultrapassá-las e enxergam os problemas e desafios do dia-a-dia como obstáculos de um game, que precisam ser vencidos, com a sua relevante participação.

Voltando às novas gerações, um Líder protagonista não perde muito tempo reclamando das características “indesejáveis” de seus funcionários. Primeiro, dedica-se a contratar os melhores entre eles. Depois, desenvolve um alinhamento com os novos contratados, mostrando-lhes como as coisas devem funcionar por ali. Busca, obsessivamente, entender as mentes e os corações de seus liderados, promovendo um ambiente em que eles trabalhem com satisfação e engajamento. E mantém um permanente processo de feedback, elogiando avanços e corrigindo rotas, de tal forma a alavancar o melhor de cada integrante da equipe. E, se necessário, dispensa aqueles que não “comprarem” o projeto. Para um Líder protagonista, a diversidade é uma fonte de crescimento mútuo, e não de problemas.

Logo após a Rio 2016, o técnico Bernardinho deu uma entrevista, em que destacou que o grupo de atletas que atuaram naquelas olimpíadas não reagiam tão bem ao seu tradicional estilo. Ora, já eram, provavelmente, sintomas das mudanças de expectativas dos atletas mais jovens. Mas, como um Líder protagonista, o que fez Bernardinho? Passou a reclamar de seus atletas para a imprensa e seus dirigentes? Não, conforme ele mesmo narrou, na entrevista, adaptou seu estilo de tal forma a alcançar a coesão do time. Trocou a conhecida intensidade por empatia, conversando com cada atleta, tentando entender o que cada um esperava dele. E, assim, levou a equipe ao nível de alta performance de que precisava, para chegar a mais uma medalha de ouro.

O protagonismo é uma competência que só emerge, em patamares elevados, quando o Líder se livra da armadilha da vitimização. E ela se encontra à espreita em cada novo projeto, em cada nova meta, em cada adversidade, em cada mudança dentro da organização, em cada obstáculo enfrentado. Quando um Líder cede à tentação da vitimização, não apenas ele, mas todos os participantes da equipe se afastam do protagonismo e encontram o álibi perfeito para que as coisas não aconteçam. Afinal, em um ambiente de vitimização, não faltarão justificativas para o fracasso.

Portanto, se você quer ser um Líder de sucesso, avalie sua postura e responda a você mesmo, com toda a sinceridade, até onde você é um protagonista e até onde você cede espaço para a vitimização. E, entenda, eventuais deficiências de protagonismo podem representar, especialmente, valiosas oportunidades de mudança, que, se aproveitadas, tendem a te levar, sem grandes mistérios, a novos patamares de produtividade e resultados, e, principalmente, a uma nova forma de enxergar o mundo e os desafios que ele nos apresenta. Pois, como disse Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon: “Reclamar não é uma estratégia. Você tem que trabalhar com o mundo como ele é, não como você gostaria que ele fosse…”

            E então, o que você acha de tudo isso? Conte pra gente, acessando e deixando os seus comentários.

Lideres Online
Average rating:  
 0 reviews

Deixe uma resposta