QI, QE E QS – TUDO JUNTO E MISTURADO…

Às vezes, ouvimos, em tom de ironia, que fulano de tal foi promovido porque tinha QI. É claro que, nesses casos, a sigla QI é uma referência jocosa à expressão “Quem Indica”… Agora, deixe-me te provocar: imagine que você detivesse a caneta para promover alguém. E que você tivesse entrevistado três, quatro, cinco pessoas. E que todas apresentassem currículos semelhantes e competências similares. No entanto, com relação a uma delas, você tivesse um relacionamento já consolidado, pautado pela simpatia e confiança. Seja sincero, vai: quem você promoveria? Você promoveria essa pessoa ou tomaria o risco, nomeando uma entre as outras quatro, com as quais você não mantivesse nenhum relacionamento?

É sobre isso que queremos falar contigo, no artigo de hoje, Líder. Não raramente, no ambiente corporativo, o senso comum distorce alguns conceitos, às vezes por falta de uma reflexão mais aprofundada sobre o tema, às vezes para aplacar eventuais frustrações.

O fato é que, de maneira simplificada, poderíamos explicar o nível de sucesso de uma carreira, a partir de três quocientes: 1) O QI, Quociente Intelectual; 2) O QE, Quociente Emocional e 3) O QS, Quociente Social. O QI representa o conhecimento e as habilidades técnicas que vamos acumulando ao longo de nossa trajetória. Sua compatibilidade com o momento e com as demandas valorizadas por quem contrata pode significar diferencial valioso. O QE representa a nossa Inteligência Emocional, ou seja, a nossa capacidade de conhecer nossas emoções, as emoções alheias e de conjugá-las em prol dos melhores resultados. E o QS representa a nossa capacidade de nos relacionarmos com as outras pessoas, particularmente aquelas que podem influenciar nossos resultados e, por consequência, nosso destino. Nós não queremos, aqui, fazer apologia a esse ou aquele quociente, como se, sozinho, representasse o remédio para todos os males. Ao contrário, entendemos que, na trajetória de um Líder, os três quocientes devam ser desenvolvidos e lapidados. Agora, há um fato que percebemos, ao convivermos com as lideranças: enquanto o QI e o QE são, permanentemente, enaltecidos, o QS é, não raramente, objeto de repulsa e desprezo, como se a capacidade de se relacionar fosse sinônimo de puxa-saquismos, interesses casuísticos ou coisas que o valha. E, para piorar, alguns autores denominam o QS como Inteligência Política, o que amplifica o mal entendimento do conceito, e, consequentemente, se negligencie sua importância.

Se pararmos um pouco para pensar, perceberemos que não é de hoje que a capacidade de se relacionar representa um diferencial valioso para Líderes. Napoleon Hill, no início do século XX, ao entrevistar os responsáveis pelas maiores fortunas, à época, constatou que a capacidade de cultivar bons relacionamentos representava um elemento-chave para o sucesso. Entidades seculares como a Maçonaria, o Rotary e o Lions também priorizam, entre os seus preceitos, a capacidade de realização, pessoal e coletiva, quando o relacionamento entre pessoas que compartilham valores e objetivos semelhantes se faz presente.

Portanto, um Líder que não valoriza e que não prioriza o Quociente Social estará desprezando um dos pilares que sustenta o sucesso na Liderança. E, fatalmente, sem um dos pilares, a estrutura da Liderança ficará seriamente comprometida.

Um bom argumento sempre será ouvido, em um Comitê. Mas, acompanhado de relações de confiança e de afeto, por parte de outros participantes, esse mesmo argumento ganha uma força inacreditável! Derrapadas podem custar caro a um Líder, mas se ele contar com uma rede de relacionamento poderosa, as consequências podem ser sensivelmente minimizadas. E é importante destacar a importância que o QE tem, em relação ao QS. Líderes com Quociente Emocional elevado conseguem agir – e reagir – no ambiente de trabalho com um controle elevado de suas emoções, permitindo, por consequência, relações mais saudáveis e duradouras, independentemente das circunstâncias.

Assim, um Líder que busca resultados sustentáveis e destacados, precisa cuidar dos três quocientes: o QI, o QE e o QS. Eles são igualmente importantes e interdependentes. Eu sempre utilizo uma metáfora, quando trato do tema: se pensarmos na saga de Moisés, sob o aspecto da Liderança, poderíamos. metaforicamente, dizer que o conhecimento da geografia do caminho percorrido e das marés, quando da travessia do Mar Vermelho, representaria o seu QI. A capacidade de vivenciar as diferentes crises e revoltas do seu povo, durante os anos de jornada, agindo e reagindo de acordo com as circunstâncias, em prol de seu objetivo, poderia ser chamado de QE. E a habilidade de se relacionar com o seu povo, mantendo-os em marcha, apesar das incertezas do projeto, poderia ser denominada QS.

O Quociente Social é mais desafiador do que os outros quocientes. Enquanto o QI e o QE envolvem, predominantemente, o próprio Líder, o Quociente Social depende da interação entre indivíduos e, consequentemente, sua força envolve não apenas o sujeito, mas também o objeto. O Quociente Social depende da atitude protagonista do Líder em definir, como objetivo, a boa relação com todos os indivíduos que habitam seu ecossistema, exercitando, permanentemente, a empatia e a capacidade de entrega e absorção de valor. No livro “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”, o autor – Stephen Covey – traça um paralelo entre as fases da vida e as formas de relacionamento. Na infância dos relacionamentos, o Líder se sentiria dependente de outros. Na adolescência, o Líder se julgaria independente. E, na maturidade, o Líder perceberia a força da interdependência, quando as relações produtivas e saudáveis são cruciais para a superação dos desafios impostos.

Dessa forma, ao invés de desdenhar ou ironizar as relações no ambiente de trabalho, um Líder sênior perceberá a importância dos diferentes quocientes, e trabalhará, incessantemente, para construir relações de confiança e apreço, em todas as direções. Nesse caso, não se trata de uma simples medida interesseira. Trata-se da consciência de que os melhores resultados advém de uma construção coletiva, marcada pela reciprocidade de pelo respeito mútuo. É a velha concepção do “Juntos somos mais fortes”. Lembre-se de uma coisa: de maneira geral, no ambiente corporativo, não há inimigos ou pessoas que acordam pela manhã pensando em te sacanear. O que há são perfis diferentes, opiniões diferentes, metas diferentes, à espera de pessoas que os compreendam e decidam por caminhar juntos…

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