Deixe-me te fazer uma pergunta: quando foi a última vez em que você mudou de opinião sobre algo? E quando foi a última vez em que você incorporou um novo hábito ao seu dia a dia? Eu me lembro de uma tirinha que vi no Facebook há algum tempo, em que, no primeiro quadro, alguém perguntava para uma multidão:- Quem quer mudança? E todos levantavam suas mãos. E, no quadro seguinte, o mesmo personagem perguntava:- E quem quer mudar? E aí todos mantinham suas mãos para baixo, congelados…
Como seres humanos, que somos, vivemos, permanentemente, o paradoxo envolvendo o “admirar a mudança” e a resistência em “fazer parte dela”. Quem não gosta de ler a biografia de um Líder transformador, como Nelson Mandela? Quem não se deleita em contar a história de um empreendedor que conquistou o mundo? Quem não se encanta em conhecer alguém que está transformando sua comunidade? Mas, se após esses estímulos, alguém perguntar:- E você? Eita pergunta incômoda. Geralmente, nossa reação é responder:- Eu? Eu o que?
Lembre-se: trazemos traços instintivos muito fortes de nossa ancestralidade. Em algum momento de nossa evolução, éramos seres que economizávamos o máximo de nossa energia, com um único intuito: lutar ou fugir… Essa postura serviu para nos trazer até aqui. Mas, já há algum tempo, percebemos que isso não nos ajudará a caminhar para o futuro. O saudoso escritor futurista Alvim Toffler – precursor do conceito do computador, antes que qualquer um tivesse pensado a respeito – escreveu: “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler ou escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender…”
E, repare, que o “aprender, desaprender e reaprender” não está relacionado, somente, às hardskills, ou seja, ao conhecimento técnico e acadêmico. Está, também relacionado às softskills, isto é, às competências comportamentais. Deixe-me dar um exemplo, para ficar mais claro: independentemente do segmento da indústria, nós somos remanescentes de uma era “fordista”, onde a linha de produção ainda é, predominantemente, estruturada por áreas segregadas, em que cada equipe faz sua parte e entrega para a área seguinte, como se estivéssemos, literalmente, em uma linha de montagem. Bem, em uma estrutura como essa, algumas competências são essenciais, como disciplina, concentração, foco estreito, subordinação, respeito a padrões, etc. Daí, de repente, depois de uma série de reuniões com uma consultoria, nossa empresa decide dar um passo à frente e novas competências passam a ser valorizadas, tais como visão sistêmica, inconformismo positivo, pensar fora da caixa, postura colaborativa, etc. E a partir desse momento, os líderes seniores saem de uma sala energizados para mudanças rápidas e extremas. Mas, cá entre nós, as chances de que esses Líderes venham a se frustrar são enormes. Pois, avaliando com sinceridade, quem está, genuinamente, preparado para isso?
Inicia-se, então, não raramente, uma batalha entre uma estratégia visando quebrar paradigmas e buscar ações desruptivas, e uma execução resistente às mudanças e apegada ao status quo. E, não é de se surpreender que os próprios patrocinadores do projeto de mudanças se apeguem a padrões anteriores, tornando ainda mais difícil o processo de transformação. E, é a partir dessa constatação, que o “guru” Peter Drucker escreveu: “A cultura devora a estratégia no café da manhã…”. Ele já percebia as dificuldades que as empresas teriam para implementar seus planos, quando esses exigissem uma mudança cultural, em um ambiente onde a velocidade ganha contornos quase caóticos…
Pois bem, e são esses desafios que fizeram surgir um novo “desejo de consumo” por parte das organizações: Líderes com INTELIGÊNCIA ADAPTATIVA. Mas, como definir esse novo tipo de inteligência, tão desejado pelas empresas que almejam conquistar o futuro? De todas as definições que tenho lido, a que mais gostei, até aqui, foi a seguinte: “A Inteligência Adaptativa representa a capacidade de se abraçar o novo, abandonando velhos paradigmas e assumindo o protagonismo das mudanças que contribuam para um futuro relevante.” Gosto desse definição, porque ela é apropriada para qualquer contexto, seja na vida profissional, seja na vida pessoal.
Parece simples, mas desenvolver a Inteligência Adaptativa exige, na maioria das vezes, um esforço muito grande, particularmente por parte dos Líderes, que, de certa forma, já vêm trilhando uma carreira bem sucedida, em suas respectivas organizações. É como, se de tempos em tempos, alguém dissesse:- Para tudo! Nada disso valeu, até agora. O jogo vai começar de novo. Tomem seus lugares e escolham suas cartas (e você estava com cartas excelentes…). Realmente, não é fácil viver em um ambiente em que, a cada dia, novas diretrizes são estabelecidas. É como se vivêssemos em um labirinto, cujos caminhos se alternam, a cada momento…
Mas, o que se esperar de um ambiente em que as tecnologias, a concorrência, os clientes, as leis e os recursos mudam a uma velocidade nunca antes vista? Nesse ambiente, vale a já conhecida frase do maestro Herbert Von Karajan: “Quem decide pode errar. Quem não decide, já errou…” E, se as organizações e os empreendedores estiverem pressionados a assumir riscos, para sobreviverem em um ambiente tão dinâmico, é natural que quem participa de seus projetos, particularmente os Líderes, precisarão desenvolver, cada vez mais, a capacidade para contribuir nessa jornada. Recentemente, li em um artigo algo que me chamou a atenção: o autor defendia que, nesse “novo mundo”, o conceito de resiliência cede lugar para o conceito de plasticidade. Ou seja, mais do que resistir a determinadas pressões, com a capacidade de retornar ao seu estado original, o novo profissional precisa desenvolver a capacidade de se moldar a novas situações, sem a expectativa de que voltará ao seu estado anterior…
Bem, e como desenvolver essa “tal Inteligência Adaptativa”? Como o tema ainda é muito recente, há pouca literatura para nos amparar nessa busca, caso decidamos colocá-la entre nossas prioridades. Mas, apesar disso, não deixarei de registrar algumas sugestões, nesse artigo:
1 – Permita-se mudanças: frequente restaurantes diferentes, peça novos pratos, pratique novos hobbies, encontre-se com pessoas diferentes, desenvolva novos trajetos até o seu trabalho, leia novos estilos literários…
2 – Estimule o seu lado aventureiro. pratique rafting, arrisque novos pratos, na cozinha, faça trilhas, use roupas completamente diferentes daquelas que você costuma escolher, ouse um novo corte de cabelo…
3 – Procure participar de novos projetos de sua empresa, e engaje-se em seus propósitos, curtindo as etapas de planejamento e implantação, como uma grande viagem, com um destino desejado: o sucesso!
4 – Chegue para trabalhar mentalizando, sempre, que você vive em um mundo mutante, em que Raul Seixas, finalmente, venceu: “é melhor preferir ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”. E, mais do que isso: curta esse momento. Lembre-se de que a calmaria pode ser confortável, mas geralmente não nos leva para muito longe…
Espero que esse nosso artigo tenha contribuído para suas reflexões, e gostaria que você participasse, nos comentários, respondendo à seguinte pergunta:- “Como é que você tem atuado para se adaptar às novas demandas, em seu trabalho e em sua vida?” Ficaremos muito felizes em conhecer mais sobre seus desafios e suas armas…