Era uma vez, um jovem genial. Tão genial que não gostava de aprender da maneira tradicional. Tinha pouca paciência com a média. Em algum momento, juntou-se a um outro gênio, com perfil totalmente diferente, e iniciou um projeto que mudaria o mundo. Mas, mais do que mudar o mundo, acabaria por mudar a si próprio. Esse jovem não conhecia limites. Pensava grande e tinha um fabuloso poder de realização. E, mais do que isso, era magnético e conquistava parceiros com extrema facilidade. Tudo isso contribuiu para que sua empresa crescesse em uma incrível velocidade. Ele tinha um produto inovador, uma ousadia admirável e a capacidade de persuasão. Mas, talvez ele ainda não soubesse, não tinha competências essenciais de Liderança.
Bem, na medida em que a empresa foi crescendo, já não eram mais dois, cinco, dez. Eram centenas, depois milhares. Já não eram apenas sócios e investidores. Eram empregados, acionistas, jornalistas, conselheiros. E o perfeccionismo que levara aquele jovem a feitos incríveis tornou-o agressivo, irascível, tóxico. Sua empresa passou a perder os melhores talentos, afugentados pela maneira aterrorizante com que eram tratados. A ausência de uma inteligência emocional compatível à sua posição e os inúmeros conflitos causados por seu temperamento, na empresa, fez com que, em certo momento, um grupo de executivos e acionistas decidisse por demitir o jovem, que criara aquele negócio.
Provavelmente você já sabe de quem estou falando: Steve Jobs. Sua saída provocou muitos estragos à companhia, particularmente com a imprensa, que já havia se acostumado com suas magnéticas incursões e com seu jeito megalomaníaco de ser. Saía o gênio. Ficavam gestores e colaboradores, comprometidos em dar sequência aos sonhos da “maçã mordida”. Mas, a partir daquele ato, nem Jobs nem a Apple seriam mais os mesmos… Em um primeiro momento, Jobs parece ter sido movido pela mágoa, e tentou criar algo que pudesse concorrer com sua própria companhia. A NeXT não teve a força para derrubar a Apple. Foi, no entanto, a ponte para seu retorno à companhia. Mas, os anos de distância da Apple fez com que Jobs revisse muitos de seus comportamentos, permitindo um amadurecimento que o faria retornar muito diferente daquele Jobs que deixara a empresa, anos antes. Jobs cresceu, aprendeu e se tornou um Líder de fato. Não à toa, sua segunda passagem pela Apple foi a que mais lhe rendeu menções nos livros de Liderança, escritos em nosso tempo.
Mas, o que a história de Jobs pode nos ensinar, sobre Liderança? Bem, em primeiro lugar, o que me faz adorar sua história é perceber que, mesmo um ser genial como era, um Líder nasce a partir da capacidade de aprender. Não são os genes que fazem os maiores Líderes da nossa História. Warren Bennis afirmou isso, após décadas dedicadas ao estudo da Liderança. Ele escreveu: “Os verdadeiros Líderes não nascem Líderes, mas se fazem Líderes…”. Não é incomum se confundir genialidade com Liderança. Mas são coisas diferentes. E, tão diferentes que, não raramente, pessoas geniais não conseguem desenvolver competências de Liderança, restringindo suas ações às bancadas solitárias dos laboratórios, aos ateliês escondidos de pintura ou às escrivaninhas escuras de escritórios. A Liderança é muito menos a presença da genialidade e muito mais a agregação de competências cognitivas, emocionais e sociais que tornam seus portadores capazes de inspirar as ações e atingir objetivos, às vezes considerados impossíveis.
Um outro aspecto que me chama a atenção, todas as vezes em que revisito a história de Jobs é a força do propósito. Por mais que tenha realizado coisas muito legais, após sua saída da Apple, tais como a criação da NeXT e da Pixar, Jobs nunca abandonou seu propósito de voltar à Apple, o que, provavelmente, contribuiu para que ele reavaliasse seus comportamentos e suas atitudes, permitindo-lhe incorporar novas competências ao longo do tempo. Basta analisar a História para percebermos a força do propósito na formação de grandes Líderes. Gandhi queria a independência da Índia. Martin Luther King buscava a igualdade racial. Mandela sonhava com o fim do apartheid… Um passeio pela biografia desses grandes Líderes nos levará a perceber que propósitos inspiradores geraram a energia e a força suficiente para que eles percorressem um intenso processo de transformação, até se tornarem Líderes capazes de arrastar multidões em direção às suas visões de mundo…
A persistência também parece estar presente em todas essas histórias inspiradoras. Uma leitura da vida de ícones da Liderança, como Abraham Linconl e Winston Churchill nos mostrará uma trajetória de subidas e descidas, júbilos e fracassos, idolatria e abandono. A trajetória de um Líder raramente é linear. Aqueles que conseguem o sucesso não raramente enfrentaram revezes e fracassos ao longo de suas jornadas. Se nos dispusermos a conhecer um pouco mais a vida de nossos grandes Líderes, no Brasil, como Jorge Paulo Lemann, perceberemos que, antes do sucesso e da consagração, vieram momentos de decadência e fracasso. É a persistência o combustível que mantém os Líderes em marcha, mesmo quando momentaneamente abatidos…
E me parece bastante perceptível que todos esses Líderes que nos inspiram tiveram a felicidade de conviver com pessoas fantásticas, frequentando ambientes enriquecedores, onde a aprendizagem e as oportunidades se potencializaram. Napoleon Hill, em suas relevantes pesquisas, realizadas no início do século passado, já percebia que, entre os homens mais bem sucedidos do mundo, uma característica predominava: a capacidade de manter relações com pessoas que compartilhavam competências e objetivos comuns, que ele denominou MasterMind. Assim, o sucesso seria a somatória de competências e esforços de diversos indivíduos, compartilhando um sonho ou propósito comum. E é curioso verificar que esse aspecto parece ser o que movimenta as grandes personalidades da Quarta Revolução Industrial, em curso, cem anos depois…
Então, após tantos anos liderando equipes, estudando e ensinando Liderança, mentorando e desenvolvendo Líderes estou convicto de que nenhum Líder nasce pronto. Há quem já traga, em sua bagagem, algumas características importantes. Há outros que não. Mas, em qualquer circunstância, a Liderança só acontece quando se aceita percorrer a jornada com, pelo menos, quatro elementos:
1 – Propósitos inspiradores, que nos inspirem a percorrer a jornada;
2 – Capacidade de aprender, estimulando a humildade e a consciência de que nunca estamos prontos e acabados
3 – A persistência, para que não desistamos diante dos obstáculos ou eventuais fracassos; e
4 – A predisposição de convivermos com pessoas melhores do que nós, criando as oportunidades de aprendizagem e crescimento.
Ao criar o projeto Líderes On-Line, o meu maior propósito é proporcionar oportunidades para que desenvolvamos esses elementos: a identificação de propósitos inspiradores para nossos projetos de vida, a capacidade de aprender mais e sempre, a persistência para enfrentar as possíveis adversidades que ocorrerão em nossa trajetória e o encontro com pessoas que agreguem valor às nossas vidas.
E você, está pronto para embarcar nessa jornada? O que achou deste artigo? Qual a sua opinião sobre os aspectos aqui abordados? Comente conosco e contribua nessa conversa entre Líderes. Estamos em uma Comunidade, onde nos desenvolveremos juntos…
Abraço
Edson Procópio